Startups e pequenas empresas

"Caminhos diferentes"

Se você acompanha publicações direcionadas a pequenas empresas deve ter notado uma tendência nos últimos anos: cada vez mais elas falam dessas tais startups. Mas quais são as diferenças entre startups e pequenas empresas e porque elas tem tanto espaço na mídia?

Como startup é um conceito muito novo, os jornalistas ainda tem muita liberdade na hora de usá-lo. Geralmente, empresas que usem tecnologia em seu modelo de negócio são consideradas startups. De preferência, inovadoras, mas nem sempre. Existem empresas que são bem parecidas com as que existem há séculos, em que a única diferença é vender pela internet, ou possuir uma aplicação para iPhone, e as revistas as chamam de startups.

Para não entrar nessa discussão, vou me basear na definição de startup de alguém que entenda muito do assunto. Paul Graham é um dos criadores da Ycombinator, um dos mais famosos programas de aceleração de startups, de onde saíram empresas como DropBox e AirBnB. Depois de alguns anos ajudando centenas de startups, Ele escreveu neste ensaio em inglês sobre a característica, que para ele, diferencia as startups das outras empresas.

Segundo Paul Graham, o grande diferencial de uma startup é o crescimento. Uma startup vive para crescer muito, o mais rápido possível, mesmo que para isso precise queimar muito dinheiro, por isso muitas vezes precisa receber capital de investidores profissionais. E assim que estiver muito grande possa ter uma situação tão confortável no mercado que possa gerar um bom retorno aos investidores e fundadores (ou pelo menos pareça valer muito dinheiro a ponto de alguém pagar pelo negócio).

É por isso que quando você vê notícias como esta, em que startups já bem grandes estão com prejuízos absurdos, não deve pensar que os gestores desse negócio são burros. Eles estão trocando o dinheiro que tem para investir agora por crescimento, que é o trabalho deles.

Quando uma startup tem dinheiro em caixa, essa grana não pode ficar parada por muito tempo. Ela precisa ser investida no crescimento da empresa, e se ele está ali parada só contando como lucro, significa que você, o empreendedor não está gerenciando direito o negócio. E se você não está fazendo a startup crescer você pode até ser demitido da própria empresa.

Revistas e jornais sobre pequenas empresas cobrem startups porque essas publicações são muito lidas por pessoas que querem abrir um novo negócio, e uma startup é uma das opções de quem quer seguir esse caminho. Por isso, acabam convivendo nas mesmas páginas que pequenas empresas e franquias.

Além disso, tecnicamente, a maioria delas são empresas pequenas, tanto pelo número de funcionários quanto pelo faturamento, principalmente por serem empresas novas. E essas empresas usam uma parte de seu investimento para contratar assessorias de imprensa, que não tem dificuldade de conseguir pautas quando o modelo de negócio é incomum.

Mas startups e pequenas empresas são bem diferentes. Fundadores de pequenas empresas e de startups podem até ter o mesmo objetivo básico (ganhar dinheiro), mas a velocidade em que fazem isso e o impacto provocado são bem diferentes entre os dois tipos de empresas. O ritmo de vida de um dono de pequena empresa é muito diferente de um fundador de startup.

Um fundador de startup vai ser considerado mais legal pela mídia, e tem uma chance de ficar muito rico e famoso, mas precisa responder aos investidores, às vezes a ponto de perder controle da empresa. Ele vai precisar reservar tempo para correr atrás de mais investimento e para falar com a imprensa. E em cinco ou dez anos depois de abrir a empresa ele pode estar passeando de helicóptero e gerando milhares de empregos ou redigindo o currículo para procurar um novo emprego porque a empresa quebrou.

Um dono de pequena empresa pode não ficar bilionário, mas pode gerar lucro o suficiente para viver uma vida bem confortável. Pode não gerar milhares de empregos, mas pode afetar para melhor as vidas das pessoas com quem se importa, sua família, seus empregados, clientes e parceiros. E isso sem a cobrança de precisar crescer a empresa em um ritmo alucinado, às vezes às custas da qualidade dos produtos e serviços oferecidos.

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